Minha vida

“I’m curious about you!”

A primeira coisa que me veio a cabeça para responder foi: “So…”

(Pausa para olhar com calma e bem devagar nos olhos de cada um que estava sentado na mesa olhando para mim)

“… I’m a witch.”

E haviam duas possibilidades. A primeira é que, no exato momento que a palavra “witch” ecoasse dentro da cabeça de cada um, todos se levantariam e um alívio coletivo se mostraria presente por também serem e se revelarem. Seria compartilhado comigo suas experiências e aquele quarto crescente aceleraria os ponteiros lunares para se fazer cheio. Uma grande neblina surgiria em volta de nós com uma luz verde saindo debaixo dos pés de cada um.
A segunda possibilidade seria todos me jogarem naquele lago cheio de sapos. “Você não é bruxa? Vai lá ficar com eles…”
E em seguida eu responderia: “no, no… It’s a joke.”

Mas não, jamais poderia dizer isso, porque isso não é uma brincadeira. Eu sou bruxa mesmo e não saberia conversar sobre isso em inglês pois meu vocabulário não está tão rico assim.
Então apenas respondi o que os papéis passados de universidade me concederam – O que, supostamente seria uma ‘brincadeira’ porque eu me formei sem receber papel algum – Disse a palavra “designer” apenas para a minha consciência confirmar que sim.

Quando ela me perguntou a respeito da minha idade e disse 23, a cara de espanto dela foi a mesma que a minha ao descobrir que existem pessoas que comem caramujo.
Nunca em toda minha vida eu me senti tão bem ao ouvir alguém me dizendo que eu tinha maturidade e uma autoridade sobre minha vida tão grande e que estava admirada comigo.
Nada em mim inflou, o sentimento foi outro porque o que ela disse não passa de uma verdade. Uma verdade que me molda desde o dia em que eu nasci quando alguém, que desconheço face e nome, me pegou no colo e disse que eu carregava dentro de mim uma idade muito avançada.
Não sei de tudo nessa vida, tampouco saberei mais que todos um dia, pelo contrário, cada dia que passa descubro que não sei absolutamente nada e acrescento todo dia uma coisa nova na minha vida.
Eu apenas tenho vivido dia após dia desde o dia em que nasci pela primeira vez. Errando, acertando, sofrendo, sendo feliz e alegrando todos que passam em minha vida.
Eu apenas me senti mais confiante e determinada após cada palavra que ela disse a mim enquanto ela tentava se lembrar o que havia feito aos 23.
Na mesma mesa, um casal de ciganos de Marseille me perguntou de onde tirei tanta coragem para viajar sozinha a lugares que não sabia nem falar a língua local. A minha resposta foi simples:

“Eu acredito no meu destino e no que ele reserva de bom para mim. Quem molda meu destino sou eu. E eu sempre recebo coisas boas porque sou exatamente da mesma forma com o que vou encontrar mais adiante. A vida é tão simples quanto vive-la. Eu sou boa com todos porque sei que sendo assim naturalmente, no meu caminho também encontrarei pessoas boas como encontrei vocês.”

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